A comida é sua companheira?

Este depoimento, embora doloroso, demonstra claramente o quanto o vínculo com a comida pode se tornar uma relação complexa. Quando essa pessoa fala sobre a comida como “única companhia”, há um reflexo de um vazio emocional profundo, algo que ela ainda não soube ou não conseguiu preencher de outras maneiras. A comida, então, se torna mais do que um simples alimento; ela assume o papel de afeto, de distração, de fuga. Essa relação é muitas vezes iniciada em momentos difíceis, em que, por um breve momento, o ato de comer parece oferecer alívio ou controle. A questão se torna mais difícil quando esse alívio momentâneo se torna frequente, em que a pessoa começa a buscar, por meio da comida, o manejo dos afetos. A paciente não só usa a comida como forma de lidar com o estresse e a dor, mas ela começa a associar a alimentação ao único meio de encontrar alguma forma de conexão, conforto e companhia. A comida se torna então acolhimento e alívio rápido da dor emocional, proporcionando uma falsa sensação de controle. No entanto, como todos sabem, essa sensação é passageira. A comida não resolve os conflitos internos, nem substitui a necessidade de carinho, compreensão ou conexão. A longo prazo, os episódios compulsivos apenas agravam a sensação de vazio, criando um ciclo de culpa e autopunição. O tratamento desse quadro envolve o desenvolvimento de novas estratégias emocionais, a construção de um relacionamento mais saudável com o próprio corpo, alimentação e autoestima. É um processo de resgatar a capacidade de lidar com as emoções de forma mais saudável, sem depender exclusivamente da comida para preencher lacunas emocionais.
